Andreia Angst
Acerca de
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Trabalho desenvolvido na disciplina de Introdução a Antropologia - Museologia - UFSC
Angst, Andreia
Carvalho, Cecília Bruno de
*Discentes curso Museologia - UFSC 2022
“Museus antropológicos na contemporaneidade: perfil, perspectivas e novos desafios.”(p.707-715)
VASCONCELLOS, Camilo de Mello*
O autor Camilo de Mello Vasconcellos, é graduado e Doutorado em História pela Universidade de São Paulo na qual está como professor na área da Museologia junto ao Museu de Arqueologia e Etnologia da USP se dedicando integralmente a produção acadêmica. Aqui é realizada uma leitura em um recorte de sua obra a qual possui uma leitura acessível a estudantes de Museologia, História ou Antropologia bem como a demais pesquisadores e sociedade. Em diálogo com seu texto, está o Museu Weltmuseum Wien o qual possui significativo acervo etnográfico oriundos de alguns dos povos indígenas do Brasil.
Visando uma aproximação do museu com o público e com os povos aos quais pertencem as culturas expostas em suas exposições permanentes é importante que isso se dê de dentro para fora com uma apresentação geográfica das exposições etnográficas como também em sua curadoria. Nesse aspecto, o Museu Etnográfico de Viena possui contradições ainda mais quando se trata de acervos indígenas a exemplo da coleção de objetos dos Asurini do Xingu. Esse acervo fica localizado em meio a outros acervos ligados a América do Sul em uma sala específica para o Brasil onde sua curadoria é feita pela Dra. Claudia Augustat e que está nomeado como “O mítico período primevo da Amazônia.” Na abordagem do Weltmuseum Wien (figura 1), esses acervos “coletados” representam uma grande diversidade cultural e que a partir deles é possível contar uma história do período que antecede a chegada dos europeus, discorrendo ainda sobre a sua apropriação colonial do continente. Dentre eles há peças individuais provenientes da Câmara de Arte do Castelo Ambras: uma clava e um machado âncora dos Tupinambás. É preciso aqui destacar que o acervo da América do Sul no Weltmuseum Wien é oriundo de trocas entre museus, compras, doações, legados e numa sutileza descrevem ainda como provenientes de estratégias de colecionismo. É destacada uma coleção datada de 1817 do zoólogo Johann Natterer(figura 2 que em expedição austríaca, em ocasião do casamento da arquiduquesa Leopoldina (Áustria) e do príncipe herdeiro Dom Pedro de Alcântara (Brasil/Portugal).
Figura 1 - Weltmuseum Wien. Figura 2 – Johann Natterer
Fonte: https://www.weltmuseumwien.at/en/about-us/ Fonte: Linda Hall Library
Nessa perspectiva de visão única da história, o autor do texto escolhido para esta leitura crítica, nos traz a seguinte reflexão:
“Assim, era possível identificar, segundo estes especialistas, um único centro de onde teriam partido todas as invenções culturais significativas da humanidade e era possível perceber também até mesmo as modificações nos objetos materiais destas sociedades (mais avançadas ou menos avançadas). Concebiam a humanidade como idêntica e a pensavam independentemente da sociedade e da cultura na qual estavam inseridos os distintos povos que dela faziam parte. Isto acabou influenciando inclusive os modelos expográficos dos grandes museus enciclopédicos do século XIX, cujo objetivo maior era narrar a história da humanidade desde suas origens mais remotas até o estágio mais avançado do processo evolutivo, ou seja, as modernas sociedades europeias.” (VASCONCELLOS, 2011, p.708)
A ideia da representação dos acervos de forma evolutiva como cita Vasconcellos anteriormente, além de ser uma visão etnocentrista, retira de contexto geográfico como cita o autor, descaracterizando os significados dos objetos. Em seu texto, ele propõe uma abordagem evolutiva do papel dos museus e da sua relação com a Antropologia no qual exemplifica a sua dissociação por volta dos anos vinte, trinta do século XX no qual estes museus deixariam de exercer a atividade de produção de estudos científicos, ficando naquele momento a cargo dos centros de pesquisa das universidades; período no qual Vasconcellos descreve como período de “ostracismo”. Já nos anos de 1980 um novo movimento reaproxima a antropologia dos museus tornando-os também objetos de pesquisas antropológicas.
Essa reaproximação pressupõe um novo olhar em relação as exposições anteriormente apresentadas. Sua contextualização não primava por um aspecto antropológico, mas sim em uma visão evolutiva comparatista na qual conceitos desta se apresentavam como modelos classificatórios para exposições. Sendo o museu um espaço não formal de formação, dito isto na perspectiva educacional segundo a LDB/96(Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), não o isenta de seu papel de (in)formação cultural. É mais um espaço no qual é possível construir saberes que de fato dão significado às exposições quando dialogadas pelos povos dos quais eles se originam, valorizando assim aspectos sociais, culturais e políticos numa perspectiva educacional. Sobre isso, o autor nos traz a seguinte citação:
“A valorização das diferenças não nos deve deixar perder de vista que a luta pela igualdade social e por uma sociedade mais justa ainda é uma bandeira pela qual vale a pena lutar. Esta também deve ser uma trincheira que deve envolver fundamentalmente os museus antropológicos, especialmente quando concebemos propostas e programas educativos, pois estes devem dar conta fundamentalmente das mudanças culturais em que estamos imersos.” (VASCONCELLOS, 2011, p.710)
No texto o autor ressalta a importância de sua pesquisa no qual ele cita haver uma preocupação em compreender o papel dos museus universitários que promovem exposições que participam da formulação de conceitos educativos das culturas indígenas. Para ele, ainda persiste um padrão cultural de curadoria no qual a cultura indígena não está representada, mantendo ainda um discurso no qual o protagonista vivo, ainda não participa.
O chamado para uma nova perspectiva educacional junto a professores e área técnica dos museus se compreende na perspectiva de uma educação emancipatória aos povos indígenas. Visões estereotipadas já não cabem mais aos museus. A aproximação do conceito de missão e visão resultando em uma experiência cultural acessível, concisa e pura na sua significância, s faz urgente nos espaços museológicos segundo o autor.
Dentro da perspectiva de acervos de povos indígenas do Brasil, voltemos ao início deste estudo onde foi relatado o caso dos indígenas Asurini do Xingu, objetos existentes em uma instituição europeia, “coletados” na década de 1970 por um grupo de catequizadores patrocinados por uma empresa de ferrovias austríaca que tinha interesse na localidade. Alguns dos objetos do povo Asurini do Xingu que permanecem no Weltmuseum Wien (figura 3, 4 e 5).
Figura 3 – Adorno de cabeça usado em ritual
Fonte: Weltmuseum Wien
Figura 4 – Vasilha cerâmica para guardar mel e líquidos (japu)
Fonte: Weltmuseum Wien
Figura 5 -Instrumentos para alisar, raspar, furar (takype e merirãña)
Fonte: Weltmuseum Wien
*Professor e pesquisador USP – Graduado e Doutorado em História pela USP.
BIBLIOGRAFIA
AUGUSTAT, Claudia. ASSUNTOS DE PERTENCIMENTO Museus etnográficos em uma Europa em mudança. In: AUGUSTAT, Cláudia. ASSUNTOS DE PERTENCIMENTO : Museus etnográficos em uma Europa em mudança. SIDESTONE, 2019. Disponível em: https://www.sidestone.com/books/matters-of-belonging . Acesso em: 12 jun. 2022.
Cultura Material Indígena – Acervos do Weltmuseum Wien Disponível em <https://img.socioambiental.org/v/publico/institucional/acervos-weltmuseum-wien/#:~:text=Ao%20longo%20dos%20s%C3%A9culos%20XIX,pontos%20da%20Am%C3%A9rica%20do%20Sul > Acesso em 22.05.2022.
Museu de Etnologia, Viena. Disponível em <https://stringfixer.com/pt/Vienna_Museum_of_Ethnology>. Acesso em 22.05.2022.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA CASA CIVIL SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS. Diretrizes e Bases da Educação nNcional. nº LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996, de 20 de dezembro de 1996.
Disponível em< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm> Acesso em 12/06/2022.
SILVA, Fabíola & Garcia, Lorena. (2015). Território e memória dos Asurini do Xingu: Arqueologia Colaborativa na T.I. Kuatinemu, Pará. 7. 74. 10.18542/amazonica.v7i1.2152.(p.128-134). Disponível em < https://www.researchgate.net/publication/305330808_Territorio_e_memoria_dos_Asini_do_Xingu_Arqueologia_Colaborativa_na_TI_Kuatinemu_Para/citation/download> Acesso em 09.06.2022.
VASCONCELLOS, Camilo de Mello. 2011.Museus antropológicos na contemporaneidade: perfil, perspectivas e novos desafios. MAE-USP/ICOFOM: 707-715.